Para reunir todas e quaisquer apresentações necessárias para o grupo, segue o artigo escrito por Ricardo Agnes (membro do grupo) para a edição #25 da revista periódica da Universidade de Coimbra "Rua Larga":
Escrevo sobre deixar de ser alegórico.
Sobre ser um desabamento catastrófico.
Sobre ser um peregrino do espírito.
Incendiar a pólvora da palavra liberdade, e vivê-la a sério, nunca mais pensando nela. É cegar.
Ensurdecer. Silenciar.
É rasgar o corpo terrestre e persistente.
Esticá-lo. Agrafá-lo a uma rajada de vento e sentir o mimetismo
das órbitas onde o silêncio se cala.
Morrer antes da morte. Deixar a vida acontecer sem lhe dar um nome.
Ler este texto sem ele existir.1
Doídos. A diferença que pode fazer um assento quando de escaladas se trata! Pois nesse assalto que é a formação superior, a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCE) da Universidade de Coimbra tem, ao dispor dos seus docentes, discentes e funcionários, uma base para a deformação pessoal – trata-se do Grupo de Expressão Dramática InterDito.
No início de 2007, um grupo de alunos e docentes encenou a formação de um grupo de teatro na faculdade. A perspectiva de explorar a relação entre a Psicologia, a Educação e a Intervenção Social concretizou-se no vector principal do projecto que conta já com um portfolio interessante. Com destaque para a participação nas X e XI Semana Cultural da Universidade de Coimbra, contando, nesta última, com a orientação e coordenação artística de Nicolau Antunes e com a colaboração da coreógrafa Amélia Bentes. O espectáculo Sentir Tudo de Todas as Maneiras, no qual o público é solicitado a contar uma história, aborda temas como a Psicologia Experimental e o mundo da senciência (ancorado em Fernando Pessoa), foi apresentado no passado dia 7 de Março na FPCE. “Será haurível o nome de sentir? Quanto me custa ser uma curva normal?” E porque “afinal, a melhor maneira de viajar é sentir”, a peça oferece uma viagem da normose até à loucura bendita, com um “hálito de música ou de sonho”.
A anterior edição da semana cultural marcou a estreia do InterDito, com o espectáculo Sr. Calvino integrado no fórum de discussão Em Busca da Ilha Desconhecida, do ciclo de actividades Planeta Terra com Gente Gira – Imaginação em Mo(vi)mentos, na FPCE.
Intrinsecamente, a nutrição fundamental do projecto InterDito é o alpinismo interior de cada um dos seus elementos. Assume-se (in)formalmente como um laboratório de autoconhecimento. Para essa deformação têm contribuído inúmeros workshops, entre os quais um de criatividade com Gil Alon, realizado em Abril de 2008, que marcou de forma decisiva a afirmação e o crescimento do grupo.
O grupo pretende apoiar o Centro de Prestação de Serviços à Comunidade da FPCE bem como os diferentes grupos de investigação. Para tal propõe-se dinamizar intervenções psicoeducativas, como já teve oportunidade de fazer através de sessões de estimulação sensorial com idosos. Tenciona igualmente participar em conferências, colóquios ou congressos, à luz do que aconteceu, por exemplo, a 6 de Março último, com a apresentação de “Cenas de Abuso a Idosos” no Malmequeres e Bem Me Queres - II Congresso de Psicogerontologia Clínica. Uma outra valência deste grupo é o enriquecimento pedagógico que coloca ao dispor de todos os docentes da faculdade, uma vez que se disponibiliza a realizar roleplays ou pequenas apresentações nas aulas. O grupo conta já com apresentações em algumas unidades curriculares onde trabalhou, por exemplo, o psicodrama.
Ainda imberbe, este é um projecto em desenvolvimento que espera ver-se talhado de acordo com as linhas mestras da estrutura interna da FPCE e da própria Universidade de Coimbra. Assim, tem vindo a desenvolver todos os esforços no sentido de concretizar a vitalidade que cria e atrai na realidade do percurso académico dos futuros estudantes da FPCE. A sustentação da inércia até agora criada dependerá de ventos favoráveis, porque não será por falta de solo fértil que este movimento será para sempre interdito. Com ou sem cárcere libertino os assentos vão aparecendo. Doídas querem-se as formações, se é que me entendem. Para já, o drama instalou-se na FPCE.
Será a liberdade assim tão grave?
Quanto me custa ser uma curva normal?
A quem pertence o zero absoluto da minha
autenticidade? É meu? É teu?
Sentir por mim, ou por eles?
Cara ou coroa? Cara sem coroa? Coroa muito cara?
Quanto me custa ser rei e não ter uma coroa?
Tão perto da média, tão longe da origem!
Quanto me custa não querer este sorriso?
Vão-se os anéis, ficam-se os dedos.
Quanto me custa gostar dos meus dedos?
Não estou à altura da moda mas tenho uma moda à altura.
Tão perto da origem, tão longe da média.
Quanto me custa ser uma curva normal?
Quantas sílabas tónicas terá uma
antologia breve de felicidade?
Se eu gostar muito de ti, será incesto desejar-te?
Variáveis, cada vez mais dependentes.
E variam tão pouco!
Será a liberdade assim tão grave?
Quanto me custa ser uma curva normal?2
1. Texto introdutório à peça Sentir tudo de todas as maneiras, de Ricardo Agnes
2. Extracto da peça Sentir tudo de todas as maneiras
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