13 de outubro de 2009

Chegada do Inácio ao InterDito (9 de Outubro de '08)

De repente, folhas marcadas com a sugestão «Vem Conhecer o Inácio!!!» passam a ser o papel de parede da faculdade.
Na verdade, Inácio ressuscitou de uma vida que nunca tivera, quase que se tornou holográfico no final da tarde de 9 de Outubro de 2008, mas a sua tencionada epopeia redundou num delírio, numa «alucinação extraordinariamente nítida».
Aos pés dos membros do InterDito deixou cair duas ou três sinapses.
"Cabe, pois, a um teatro universitário dar o tom das ressurreições culturais, segundo os ventos mais actualizados da cultura; cabe-lhe, também, impor, com a sua autoridade, autores novos, julgando representativos, cujas peças podem até não ser, para nós, obras-primas, desde que essas peças pareçam significativas de tendências artísticas que, no teatro e pelo teatro, urge esclarecer. Tudo isto o teatro universitário pode fazer, com outros resultados teóricos e práticos que o teatro de amadores não atingirá nunca - porque o teatro de amadores abre-se da cultura para a vida, e um teatro universitário abre-se da vida para a cultura."

Jorge de Sena, "Do Teatro em Portugal", in "Obras de Jorge de Sena", Edições 70, 1988, Lisboa

“Alegrias profundas do vinho, quem não vos conheceu? Todo aquele que teve um remorso a acalmar, uma recordação a evocar, uma dor a afogar, um sonho a efectuar, toda a gente enfim vos invocou, deus misterioso escondido nas fibras da vinha. Como são grandes os espectáculos do vinho, iluminados pelo sol interior! Como é verdadeira e ardente essa segunda juventude que o homem a ele vai beber! Mas como são temíveis igualmente as suas volúpias fulminantes e os seus encantos enervantes. E, no entanto, dizei-me, como toda a consciência, juízes, legisladores, homens de sociedade, vós todos que a felicidade torna amáveis, a quem a fortuna torna a virtude e a saúde fáceis, dizei-me, qual de vós terá a coragem implacável de condenar o homem que bebe do génio? (…)
O vinho é semelhante ao homem: nunca se sabe a que ponto se pode estimá-lo e desprezá-lo, amá-lo ou odiá-lo, nem de quantas acções sublimes ou de proezas monstruosas ele é capaz.”
Charles Baudelaire, “Do Vinho e do Haxixe”, Colares Editora, Sintra

“Entretanto, nas sombras cinzentas, vultos indestintos, mudavam silenciosamente de posição, interpelavam-se silenciosamente uns aos outros, formavam filas, e já os seus muitos pés silenciosos marcavam passo como pistões, preparando-se para avançar. Por fim, o director puxou levemente Cincinnatus pela manga, convidando-o, como faria um professor com um leigo de passagem, a examinar a lamela. Docilmente Cincinnatus aplicou o olho contra o círculo luminoso. Ao principio viu apenas bolhas de luz solar e faixas de cor, mas depois distinguiu um catre, idêntico ao que tinha na sua cela; empilhadas ao lado estavam duas boas malas com fechaduras reluzentes e uma grande caixa oblonga semelhante aos estojos utilizados para transportar um trombone.”
Vladimir Nabokov, “Convite para uma decapitação”, Assírio & Alvim, 2005, Lisboa
Foi a primeira vez que vimos O Livro.
E foi assim que Inácio nos deixou, mesmo antes de ter chegado.

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